sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Família do Interior batiza descendentes com nomes incomuns

 

Família do Interior batiza descendentes com nomes incomuns





Do Distrito de São Paulinho, vem os nomes mais diferentes do Brasil. São os Feitosa e Gonçalves da Costa
Acopiara Que tal batizar seus filhos com nomes como Mustafá, Jefon, Nabucodonosor, Nabopolasar, Keren-Hapuc, Migdalgade, Jetro, Raabe? Achou estranho? Pois esses são alguns exemplos de nomes da família Gonçalves da Costa, que tem berço no Distrito de São Paulinho, situado na zona rural deste Município, localizado na região Centro-Sul do Ceará.

Há quatro gerações que a maioria dos descendentes do casal, Antonio Alves Feitosa e Estelita Gonçalves da Costa, mantém a tradição de registrar as crianças com nomes estrambóticos ou incomuns.

Início
Tudo começou por iniciativa de Estelita, que era uma dona de casa que lia a Bíblia, romances, livros de história e literatura de cordel. "A nossa avó era inteligente, uma mulher instruída, que gostava de ler e recitava cordel", contou a neta, historiadora, Elisa Paraguaçu.

O casal Antonio Feitosa e Estelita Gonçalves teve 16 filhos e alguns foram registrados com nomes de Gefon, Maristela, Djanira, Milton, Otacílio, Manaceis, Mustafá, Guaraciaba, Itagibe, Gefon e Nédina. Os filhos seguiram a ideia da avó e deram continuidade batizando os netos com nomes diferentes. "As gerações futuras deram continuidade e alguns pretendem manter esse propósito", comentou a neta Elisa Paraguaçu.

A família hoje com 127 descendentes, entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos, bate recorde nacional de registro civil de nomes estranhos. Resfa, Atália, Cleópatra, Amytis, Nabupolasar, Itagibe, Acsa e Sámua são outros exemplos, mas não para por aí. Selomite, Ísis Lilith, Matso-Hito, Baruque, Gineton, Sadraque, Cetura, Agarista ampliam a lista dos nomes esquisitos. Drusila, Lamec, Rarika, Lurrara e Pedro Uri complementam este rol.

"Existem exceções e alguns não seguem a tradição", observou Elisa Paraguaçu, que faz questão de frisar que ´Paraguaçu´ não é sobrenome. "É meu segundo nome próprio em homenagem a índia Tupi, que viveu um grande amor com o português, Diogo Álvaro", afirmou.

Rainha
Cleópatra lembra que tem nome de rainha do Egito. "Adoro meu nome e não tenho constrangimento". Djanira lembra que quando foi batizar Elisa os filhos de Nabucodonosor, foi repreendida pelo padre, que teria questionado o fato do rei Nabucodonosor ter sido mal e comido capim. "Você não tem outro nome não?", teria indagado o sacerdote. Em resposta, Djanira manteve a decisão. "O menino é meu e eu boto o nome que eu quero e se o senhor quiser batizar, batize". Djanira ainda frisou: "Meu filho nunca comeu capim".

Gefon, filha da Estelita, diz que todas as vezes que as pessoas precisam escrever o nome dela é preciso soletrar porque há dúvida. Nédima Feitosa diz que gosta do nome, mas a única coisa inconveniente é o fato de que a maioria das pessoas pronuncia o nome sem acento, com tonicidade paroxítona. "Tenho que corrigir".

De pai para filho
Setura, terceira mulher de Abraão, é um nome bíblico a exemplo de outros que integram a família. A professora Selomite manteve a tradição e batizou os filhos de Keren-Hapuc, Raabe, Sámua, Acsa, Ruama, Safira, Jetro e Ercília.

Alguns netos seguiram a tradição e, assim, vieram Rárica, Amytis, Luhara. Chegou, inclusive, aos tataranetos, que receberam nomes como Isis Lilith e Horus Lucius.

Nabucodonosor, rei da Babilônia, tinha como sua esposa preferida a princesa meda, Amytis, para quem ele construiu o Jardim Suspenso da Babilônia. Esses nomes da antiguidade vieram para a família cearense graças à decisão da dona de casa Djanira. "Não foi combinado, os filhos, netos e agora bisnetos foram decidindo registrar nomes diferentes e esquisitos", contou. "Todos conhecem a origem e história do seu nome. Nenhum nome foi inventado", conta Elisa.

Matriarca
Estelita Gonçalves da Costa era filha de Raimundo Gonçalves da Costa, conhecido por Raimundo Mariano, um homem destemido. Por isso, em São Paulinho, a família é conhecida como: "os Marianos". Estelita morreu em 2007, aos 93 anos. Em julho do próximo ano, a família programa a comemoração do centenário de nascimento da matriarca, que deu origem aos nomes estranhos para a língua portuguesa.

A família mantém a tradição de se reunir em datas comemorativas como aconteceu durante a Semana Santa, no mês passado. "O que ela plantou há quatro gerações se mantém até hoje e esses nomes não são dados à toa, tem origem, história e significado", frisou Elisa. Com certeza, em seu centenário, muitos nomes estranhos estarão reunidos.

Alguns dos membros da família, com os nomes Drusila, Berenice, Maristela, Lucrécia, Jeruza, Selomite, Cetura, Agarista (netas), Baruque, Gineton, Sadraque e Gi

Estelita Mariano foi quem iniciou o registro dos nomes diferentes. Ela faleceu em 2007. A família vai festejar seu centenário no ano que vem

São Paulinho